despedida

Raízes e asas

por em Dona das Coisinhas, Viagem
*Texto escrito em 23/10/2013

Hoje me senti um pouquinho mais nordestina. Não sei se já contei, mas tenho um pezinho nessa terra linda. Meu pai veio de Natal trabalhar na mina de Nova Lima e aqui conheceu uma moça linda (na verdade foram algumas) mas com uma delas se casou, teve 6 filhos e até então, 3 netos.

Desses 6 filhos, metade já bateu asas e saiu do ninho. Uns pra bem longe, outros pra perto, mas como gosto de pensar, distância é coisa relativa. Apesar de muitas vezes doer no peito.


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Hoje minha irmã mais velha se mudou para a Inglaterra com meus dois sobrinhos e foi aí que essa raiz nordestina floresceu. Enquanto os meninos, meio que sem entender tantos abraços e beijos, se despediam das tias e avós, eu preferi dar um ‘xêro’, como dizem no nordeste. Foi instintivo, mas no caminho do aeroporto pra casa lembrei o quanto minha memória olfativa é marcante. Talvez a mais marcante delas. Infelizmente essa memória olfativa, como qualquer outro tipo de memória, nem sempre me lembra só as coisas boas. Mas vamos ao que interessa.
Lembro do cheiro dos lugares que já visitei, dos metrôs em que já andei, o cheiro das feirinhas, das lojas, de hotéis, das comidas mais exóticas que já comi, da casa onde moro e também das casas que gosto mais.Todas estas lembranças me confortam e às vezes me pego desapercebida sentindo um cheiro e lembrando de alguma coisa ou lugar. 

Aquele cheiro de carinho gostoso, de abraço apertado e de bagunça no quarto da tia Zi é a mais recente e quem sabe a mais marcante lembrança que guardarei dos meus sobrinhos durante esse mais de um ano que eles devem passar longe da tia Zi (a tia preferida deles).

Quando a gente sai de casa, mesmo que seja para uma viagem mais curta, é como bater asas e sair do ninho. E para mais longe que possamos ir, carregamos a nossa essência sempre com a gente. É contraditório pensar em bater asas ao mesmo tempo em que se tem raízes (imagina o sentido figurado… muito estranho), mas quanto mais fortes são essas raízes, mais bonito é o vôo, maior a saudade de casa e também a certeza de que vai ficar tudo certo e de que há sempre um lugar para onde voltar. 

Sentir saudade sabendo que não vai voltar a ver algo ou alguém tão cedo é sinônimo de passar o tempo ansiando por sentir aquele cheirinho novamente, porque quando a gente sente é a sensação mais gostosa e confortante e a gente só quer que dure pra sempre.

Espero em breve estar na Inglaterra para dar mais um ‘xêro’, dessa vez inglês, nos meus meninos. Aproveitando, agradeço aos meus pais pelas raízes e asas que nos deram. Não importa o quão longe estamos um do outro, estamos sempre perto e é isso que vale